sábado, 8 de agosto de 2009

Santa Maria nas rotas do Atlântico


A importância geo-estratégica da ilha de Santa Maria e dos Açores na I Guerra Mundial, relevada em Ponta Delgada por Franklin Roosevelt, que viria a ser Presidente dos Estados Unidos, é o tema de um colóquio promovido pela FLAD este domingo em Vila do Porto (Igreja das Victórias às 16 horas). Oportunidade para se focar a relevância da posição dos Açores no actual contexto internacional.
A passagem pelos Açores, em 1918, do então Subsecretário da Marinha dos EUA, Franklin Roosevelt (que veio a ser presidente dos Estados Unidos); o discurso que proferiu no Almirantado de Ponta Delgada em que relevou, na altura, a importância estratégica da Região; e o Diário dirigido à mulher Eleonor, relevando a beleza do arquipélago e pedindo a familiares para que fixassem os Açores no mapa, são o mote para o colóquio que a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento promove este domingo, em Santa Maria. O colóquio “Santa Maria nas Rotas do Atlântico”, que é coordenado por Mário Mesquita, administrador da FLAD, surge a propósito da inauguração em Vila do Porto da exposição ‘Roosevelt nos Açores’. Entre os intervenientes estão o escritor Daniel de Sá; o jornalista da RTP, Lopes de Araújo; Luís Nuno Rodrigues, professor do Departamento de História do ISCTE e investigador do IPRI-UNL; e Mário Mesquita, administrador da FLAD. A sessão inaugural da exposição será apresentada por Carlos Guilherme Riley, Director da Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada e comissário da exposição.

“Procurem no mapa os Açores”
No dia 14 de Julho de 1918, Franklin Roosevelt escrevia no Diário: “(…) Devemos chegar, amanhã, ao Faial. Esta é uma das ilhas ocidentais dos Açores, onde os Dabney, de Boston, exerceram funções de cônsul, e foi igualmente o cenário do famoso combate entre o corsário John Armstrong e os barcos de guerra britânicos, na guerra de 1812. O porto situa-se na capital do Faial, cidade da Horta. Ficámos aqui apenas umas horas e depois continuámos (…) até Ponta Delgada, na ilha de S. Miguel. (…) A propósito, não leias esta carta a pessoas que não sejam da família. Diz à Ana, ao James e ao Elliot que procurem no mapa estes lugares dos Açores.” No discurso que profere seis dias depois, a 20 de Julho, no Almirantado Americano em Ponta Delgada, - citado no jornal República, de Ponta Delgada - Roosevelt deixava claro que “(…) tratando-se de fazer transportar as tropas através do Atlântico, vira-se a importância da posição estratégica ocupada pelos Açores”. O então Sub-secretário da Marinha dos EUA estava convencido de que “à medida que a guerra continuar, a importância destas ilhas, que tem sido grande, irá sempre aumentando, será cada vez maior”.
Franklin Roosevelt sublinhava, então, que o governo americano “apreciou devidamente a boa vontade com que Portugal prestou estas ilhas para a instalação de uma base naval (em Ponta Delgada) e conhece a cordialidade e o espírito de camaradagem das autoridades do Governo Central e locais para que a facilidade e êxito se instalasse aquela base”.

Santa Maria – Little América
No livro “Santa Maria – A Ilha-Mãe”, publicado o ano passado, o escritor Daniel Sá escreve que “os americanos tinham construído em Santa Maria uma pequena imagem da terra que, para a maior parte de nós, era desejada. E a essa imitação eles mesmos chamavam Little America. Desejada até doer bem no fundo da alma”.
“Foram as necessidades da guerra, já a caminhar para o fim, mas que seria ainda muito violenta no Oriente, que trouxeram de repente grande parte da ilha para o século XX. Porque a outra parte continuou ancestral e rústica, sabiamente ignorante de mais ambições que não a de ter pão em cada dia,” escreve Daniel Sá.
E o escritor prossegue: “Muita gente da que procurou uma vida decente em Santa Maria não conseguiu encontrá-la. E a riqueza que se passeava de um lado para o outro do Atlântico, passou lá um dia mais opulenta ainda”.
“26 de Outubro de 1958. O primeiro voo intercontinental de um Boeing 707 da Pan American. Metade da ilha foi apreciar o colosso que vinha destronar os Clipper e os Constellation. Ficámos todos maravilhados. Ninguém se apercebeu que o gigante a jacto anunciava o princípio do fim da importância da ilha como ponto de ligação entre os dois mundos. Dos mais de treze mil habitantes, a maior parte dos que não eram de lá foram voltando para as suas terras. E foi igualmente o descalabro da emigração, até aos muito menos que seis mil de agora,” lê-se no livro Santa Maria – A Ilha-Mãe citado no projecto do colóquio que a FLAD promove domingo em Vila do Porto. Autor: João Paz - In Correio dos Açores