quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

A propósito do Plano Estratégico de Desenvolvimento da Praia da Vitória: A SOLIDARIEDADE AÇORIANA



Nestes dias conturbados em que muito se fala da ilha Terceira e do duro golpe na sua economia que a redução do contingente norte americano da Base das Lajes representa, dei por mim a remexer na memória e a analisar o tipo de solidariedade açoriana que temos. Ou seja, que tipo de solidariedade existia quando Santa Maria passou por experiências iguais ou muito parecidas. 

Quando os americanos iniciaram a construção do aeroporto, utilizou muita da mão-de-obra que estava ligada à nossa agricultura de subsistência. Com empregos bem pagos, cedo os marienses se habituaram a um estilo de vida com melhores recursos e mais dignidade. Porém, quando a construção acabou, e os americanos se foram embora, aconteceu uma “tragédia” na ilha. As terras tinham sido abandonadas e o regresso às origens era impensável. Num tempo em que a palavra “solidariedade” ainda não tinha sido averbada nos dicionários, só restava à população a emigração para os Estados Unidos. A ilha levou uma enorme machadada na sua população.
Novo ciclo se iniciou. O aeroporto civil internacional permitiu criar muitos empregos, na sua maioria ocupados por pessoal mais especializado (?) que veio do continente. E assim a qualidade de vida se foi mantendo. Santa Maria continuava a ser uma “little américa”. O sonho de muita gente era viver na zona residencial do aeroporto, tal a diferença na qualidade de vida entre essa zona e a restante ilha.
Mas chegou a era dos aviões a jato. O porta-aviões do Atlântico perdeu a sua importância. A população tornou a recorrer à emigração, porque a SOLIDARIEDADE não veio em seu auxílio.
Mais recentemente, quando o governo regional redefiniu a política aérea, retirando a Santa Maria a condição de “placa giratória dos Açores”, que foi repartida entre S. Miguel e Terceira, como se de despojos de guerra se tratasse, também não se falou de solidariedade. Criou-se uma “alternativa” (?) para enganar papalvos. Uma zona franca - que era fraca - e industrial – mas que não tinha indústria – e que serviu para criar alguns “tachos” e como instrumento para fugas ao fisco por parte das empresas que estavam, só fiscalmente, ali sediadas. 
Essa política aérea, embora compreensível sob diversos pontos de vista, tornou a originar o abandono da ilha por grande parte da população. Os últimos dados demográficos indicam que a população de Santa Maria seja, hoje em dia, pouco superior a um terço da dos seus tempos áureos.

CONCLUINDO.
Fico muito satisfeito quando se fala de SOLIDARIEDADE AÇORIANA para resolver o grave problema de desemprego que vai acontecer na Terceira. E agrada-me imenso que o governo esteja empenhado em resolver o assunto. Mas não posso concordar que, sob a capa da solidariedade, se venha retirar ao aeroporto de Santa Maria e a entregar à Terceira uma das poucas valências que lhe restou: AS ESCALAS TÉCNICAS.

Para relembrar:
Texto: Rosélio Reis (Empresário Mariense)
Foto: LPAZ/SMA