Os materiais argilosos aflorantes na ilha de Santa Maria são adequadas, do ponto de vista mineralógico, para aplicação tópica, devido à constituição argilosa e ausência de quartzo. As conclusões são do estudo da “caracterização mineralógica e geoquímica de materiais argilosos aflorantes na ilha de Santa Maria: potencialidade do seu uso em peloterapia e fins cosméticos”, da responsabilidade dos investigadores Ana Quintela, Denise Terroso, Cristiana Costa, Henrique Sá, João Carlos Nunes e Fernando Rocha.
O estudo enquadrou-se no projeto TERMAZ, do INOVA, e os trabalhos desenvolvidos têm em conta um melhor aproveitamento e valorização de recursos naturais de que são exemplo os materiais argilosos. O estudo caracterizou, do ponto de vista geoquímico e mineralógico, os barros de Santa Maria, aflorantes em diversos locais,
nomeadamente na Gruta das Pombas, para possíveis aplicações de natureza terapêutica e cosmética. O estudo revela que “os dados mineralógicos das amostras revelam adequabilidade dos geomateriais a aplicação tópica, nomeadamente pela ausência de minerais primários potencialmente perigosos para a saúde humana como o quartzo e por terem sido detectados em abundância os minerais argilosos mais frequentemente referidos na literatura e cujas propriedades se adequam mais a este fim, caulinite e esmectite”.
Para avaliar a potencialidade do uso de materiais argilosos de Santa Maria com base nas suas características mineralógicas e geoquímicas. Desta forma, as amostras colhidas na Furna Velha e na Gruta das Pombas revelam “o material com melhores características” para a aplicação tópica “principalmente se for sujeita a um tratamento simples prévio para extracção da componente salina”.
Já os demais materiais revelam-se adequados “do ponto de vista mineralógico para aplicação tópica nomeadamente pela constituição argilosa e ausência de quartzo” no entanto os investigadores referem que estudos de bioacessibilidade de certos elementos químicos menores presentes nas amostras, devem ser averiguados previamente ao seu uso. O estudo, que vai ser hoje apresentado pelas 16h10 no III Congresso Ibero-americano de Peloides, revela que a amostragem feita em Santa Maria contemplou a colheita de cinco amostras argilosas que foram identificadas pela população mariense como sendo materiais utilizados para fins cerâmicos ou para uso medicinal. A análise mineralógica
revelou “a existência de uma fase mineralógica comum constituída por feldspatos e filossilicatos. Os minerais argilosos são representados por esmectite, caulinite e/ou ilite. Do ponto de vista geoquímico, como influência de uma fase argilosa predominante e presença de feldspatos, as amostras revelam um elevado conteúdo em fases alumino-silicatadas e uma das amostras denota uma presença muito acentuada de Na2O e Cl, resultado do forte contributo marinho”.Sendo que as argilas têm sido utilizadas desde a antiguidade para diversos fins, sendo incorporadas na preparação de produtos farmacêuticos, cosméticos e de peloides. As argilas têm sido utilizadas pelo Homem desde a antiguidade para uma grande diversidade de fi ns; estas são incorporadas na preparação de produtos farmacêuticos, cosméticos e de pelóides, por exemplo. As argilas têm sido usadas de forma empírica para fins terapêuticos “quer por ingestão ou aplicação tópica sob a forma de cataplasmas, películas fi nas ou banhos”. De acordo com o estudo apresentado o uso tópico de certos materiais argilosos “baseia-se principalmente na acção protectora dérmica ou na inclusão em cosméticos. Minerais como caulinite, talco e esmectite são utilizados como protectores dérmicos devido ao seu poder absorvente e à capacidade de aderirem à pele formando uma película que proporciona protecção mecânica a agentes físicos e químicos externos”, tal como foi apresentado já por vários estudos. A aplicação cosmética dos minerais argilosos é “largamente reconhecida” e são usados em máscaras faciais e pela sua capacidade de absorção de secreções e toxinas, sendo recomendadas “no alívio de sintomatologia associada a processos inflamatórios”.Os pelóides são aplicados tipicamente como agentes terapêuticos sob a forma de cataplasmas ou banhos em estâncias termais, aplicados quentes que exercem, por condução, acção através da pele provocando vasodilatação, perspiração e estimulação da frequência cardíaca e respiratória consoante o local sujeito à aplicação do pelóide. As argilas têm como unidade estrutural os minerais argilosos mas podem também possuir minerais não argilosos e “de entre os minerais não argilosos que acompanham os minerais argilosos podem salientar-se certos silicatos, carbonatos, óxidos, hidróxidos, sulfatos e sulfuretos”.
Como conclusão, os dados mineralógicos das amostras “revelam adequabilidade destes geomateriais para aplicação tópica”, tendo sido detectados os minerais argilosos cujas propriedades se adequam mais a este fim, a caulinite e a esmectite. Sendo as amostras colhidas na Furna Velha ou Gruta das Pombas as que revelam melhores caraterísticas para esse fim, defende o estudo liderado por Ana Quintela, Denise Terroso, Cristiana Costa, Henrique Sá, João Carlos
Nunes e Fernando Rocha.
Jornal Correio dos Açores - 4 de Outubro de 2013