terça-feira, 13 de novembro de 2012

Do sonho à realidade.


Para muitos como eu, criados e educados na zona residencial do Aeroporto de Santa Maria, o sonho de um trabalho futuro passava pelo "Porta-Aviões" que tínhamos à porta. Dada a proximidade, era de todo impossível não nos apercebermos da azáfama diária, do quão espetacular era todo o processo de assistência às aeronaves e passageiros ou até mesmo como era motivador o elevado nível de empregabilidade na altura. Dentro deste cenário, o fantástico CONCORDE, por razões mais do que óbvias, será aquele avião que irá perdurar para sempre na nossa memória.
Mas com o passar dos anos, a realidade dissipa-se a um ritmo alucinante, dando lugar à nostalgia. Algumas decisões políticas e a inevitável inovação tecnológica fizeram com que o Aeroporto Internacional de Santa Maria perdesse a importância de outros tempos.
Não obstante esta nova - e dura - realidade, houve algo que em mim nunca mudou. A vontade de um dia ver transformado em realidade o sonho de trabalhar ALI. Ter oportunidade de olhar a vedação que delimita o lado ar e o lado terra e confidenciar-me "finalmente estou cá dentro".
Obra do destino, ou não, certo é que o dia 3 de Janeiro de 2005, após dois anos de espera (o concurso foi em 2003), marca o início de um novo ciclo na minha vida profissional e consequentemente emocional. Isto por via de toda uma infância/adolescência indiretamente ligada ao Aeroporto de Santa Maria. Que melhor podia eu querer do que um dia excecionalmente movimentado? Recordo-me como se fosse hoje. Dois Airbus A330-200 da germânica LTU, o Hércules C130 da Força Aérea Portuguesa, o saudoso ATP da Sata Air Açores e o Airbus A300-600 da britânica Monarch. 
A ansiedade e o nervoso miudinho típico de quem não conhecia os novos colegas, desapareceram num ápice e deram lugar a um "atira-te ao que houver para fazer". Espetáculo! Pensei eu na altura.
Por entre a assistência normal aos aviões (serviços de toiletes, água potável e limpeza a bordo), houve ainda necessidade de movimentar os ULD's (o que é isto?) do A300-600. Os mecanismos existentes nos porões do avião, os procedimentos com a máquina (loader), o corte na mão e que me levou a receber assistência no Centro de Saúde ou até a disponibilidade excepcional do Oficial de Operações na altura (Jorge Câmara - atual chefe de escala) para colaborar no "hard work", foram alguns dos momentos agitados que recordo, já com saudade, admito, daquele que foi o primeiro dia de um sonho tornado realidade.
Presentemente, passados que estão quase oito anos, contam-se pelos dedos os dias em que acontece algo de excepcional  Movimento (ainda) há, vontade, empenho e dedicação não falta mas o gradual desinvestimento que tem sido alvo o "Porta Aviões" leva-me a pensar que o sonho de muitos como eu, poderá ser impossível de alcançar. 
Foto: António Costa (3 Janeiro 2005)