quarta-feira, 16 de julho de 2014

Das tristezas somadas da vida

 
O que vou partilhar convosco é uma tristeza que, todavia sendo pessoal, tem motivos públicos, daí perder tempo neste registo, supondo que faça eco, com ou sem consequência, que já pouco me importa.

Primeiro dois contextos:

Contexto 1:

Segunda-feira (dia 14 de julho) fui ao Centro de Saúde com a minha filha de 13 meses para uma consulta. Estava marcada para as 10.00 da manhã. Cheguei às 09.30 para dar tempo de não fazer ninguém esperar por mim. Fui, como costume, muito bem atendido pelas enfermeiras. Às 12.08 minutos, depois de já não saber o que fazer com a impaciência da bebe e com o peso da espera a fazer-me exasperar, sem qualquer explicação sobre o atraso, abandonei o Centro de Saúde desistindo da consulta. Nesse mesmo dia fiz uma queixa ao Provedor da Saúde Açores e nesse mesmo dia obtive a confirmação de que o assunto seria conduzido às instâncias responsáveis.

Contexto 2:

Segunda-feira (dia 14 de julho) fui ao Centro de Saúde mais a malta da OVO CRIATIVO para fazer trabalho voluntário na remodelação da Sala de Saúde Infanto-Juvenil, no mesmo módulo onde horas antes perdera a paciência. Trabalhei nesse dia 2 horas, as mesmas que estive à espera de uma consulta para a minha bebe.
 
Ora o interessante disto tudo foi hoje (dia 16 de julho) ter sido confrontado com uma situação que me fez amargurar a criança dentro de mim, uma situação que, de certa maneira muito infeliz, entrecruza os dois contextos referidos: explico da forma mais literal possível, reproduzindo o evento no discurso directo:
 
Vindo do nada, aparece um médico, que me interprela, com ar aborrecido:
- Foi o senhor que fez queixa da Drª. Rosário?
Ao que respondi, surpreendido pela pergunta intimidatória:
- Não, não fiz queixa da Drª. Rosário, fiz queixa do sistema.
O médico vira-me as costas, dirige-se para o gabinete onde estava a Drª. Rosário e diz, alto e em bom tom:
- Ó Drª. Rosário, está aqui o senhor que fez queixa de si.

Não se passou mais nada, entretanto. Estava demasiado ocupado a cumprir a minha sétima hora de voluntariado, juntamente com quatro jovens. Devo dizer que ficaram perplexos com a atitude do médico que apareceu do nada com ar muito tenso. Não acredito que seja esta a atitude correcta de um profissional com brio na sua bata e responsabilidade no seu cargo. Não faço voluntariado para obter favores nem reconhecimento, faço-o para me juntar com jovens de quem gosto muito e com vontade de aprender coisas novas, dando provas de cidadania activa. Estava bom tempo para a praia, foi de lá que os jovens vieram, com a roupa ainda a pingar do mar. Mas preferiram estar ali, no Centro de Saúde, a pintar, a remodelar... e a ouvir o disparate de um médico que não soube avaliar com quem estava a falar. Eu, cidadão com direito a reclamar quando sou mal servido por um serviço público, sem dívidas às finanças ou à segurança final (só devo ao BANIF) e com o voluntariado em dia.

Era isto, desculpem a maçada. Mas se serviu para alguma coisa, lembrem-se de nunca ter medo de reclamar, nem de se resignarem perante os abusos de quem julga que tem poder, só porque nos pode prescrever Brufen.
 

Daniel Gonçalves.