domingo, 11 de agosto de 2013

AO ALEXANDRE E AO RODRIGO (Por Pedro Silveira)

Detesto o barulho, detesto o cheiro a combustível, detesto a poluição que provoca, detesto que me condicione a vida, detesto tudo isto e, eventualmente, mais alguma coisa relacionada com o Rali de Santa Maria que não me lembre agora! E mais desagradado fiquei, quando soube que iria ficar impedido de ir para casa ou de sair da mesma, porque um dos troços da prova, por azar ou ironia do destino, passaria mesmo defronte da minha residência. E isso aconteceu durante a tarde de ontem!
Apesar deste desabafo, não é disto que vos venho falar, mas sim dos meus mais recentes amigos Alexandre e Rodrigo.
São dois rapazes de Vila do Porto, tendo o Alexandre 9 anos e o Rodrigo "quase 9".
Talvez neles se reconheçam como eu acabei por fazê-lo!
Esta breve história começa no final do troço Aeroporto/Avenida, isto na manhã de ontem, quando lá apareceu esta dupla fantástica, vinda não se sabe donde.
Traziam então o mapa do percurso, que seguiam atentamente e mais ou menos correctamente, bem como uma caderneta com fotos dos carros e dos pilotos em prova, com o objectivo de recolher o maior número de autógrafos possível. Confesso que o entusiasmo daqueles dois rapazes era contagiante, mesmo para mim, que ali não desejava estar e ansiava desesperadamente pela abertura da estrada para seguir caminho, mas lá meti conversa com eles os dois e, feitas as apresentações iniciais, definida a situação e os objectivos de cada um, concordámos que a melhor posição que podiam ter seria junto de mim, pois dessa forma estariam mais seguros e mais facilmente acederiam aos pilotos, tendo assim acontecido. Nisto fui-me apercebendo que aqueles dois reconheciam os carros ao longe, mesmo sem os ver e apenas pelo barulho dos escapes. Fantástico!
Pára então o primeiro e gesticulam, esbracejam, apontam para as cadernetas. Quase aos pulos gritavam: um autografo, um autógrafo! O piloto lá os viu e os chamou para junto de si. Apercebi-me que ninguém possuia esférográfica, mas antes de finalizarem aquele contacto trocaram todos um aperto de mão firme. Chegaram radiantes ao pé de mim. Perguntei-lhes: então vocês vêm pedir autógrafos e esquecem-se da caneta? Responderam-me que não era preciso, porque os concorrentes tinham. Retorqui dizendo que aqueles não a tinham... mas eles não precisam, são muito bons, foi a resposta deles. O facto é que, soube mais tarde, acabaram por ganhar o rali!
Utilizando a mesma técnica lá foram conseguindo os autógrafos e preenchendo as suas cadernetas.
Entretanto pára mais uma viatura, mas o piloto, que os viu e compreendeu perfeitamente o que desejavam, disse-lhes que não ia dar autografos e demonstrou-o grosseiramente ao mesmo tempo que arrancava, o que me desagradou bastante e o diferenciou dos restantes concorrentes. Os rapazes afastaram-se rapidamente do carro e, junto de mim, um deles exclamou para o outro, ao mesmo tempo que ambos pareciam vibrar de entusiasmo e de genuina felicidade, enquanto fitavam o afastamento do veículo: “caraças aquele tá mesmo com vontade de ganhar!”
Absorvi aquilo e confesso que meditei sobre o que se tinha acabado de passar e na reacção daqueles rapazes, tendo recordado os meus tempos em que, tal como eles, vivia o rali intensamente e fazia por ler um mapa que não compreendia totalmente.
Da parte da tarde, quando me fecharam a estrada de casa, para dar lugar à prova, confesso que já não me importei assim tanto...
Termino com um reconhecimento a todos aqueles que tornaram isto possível, em especial às equipas que tiveram a amabilidade e o desportivismo de parar e de deixar o seu autógrafo aos meus novos amigos Alexandre e Rodrigo!
Quanto à foto que ilustra este artigo, tirei-a através do telemóvel e retrata um desses bons momentos. Bem hajam!